terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O dia em que pensamos que sairíamos do paraíso na terra direto para o paraíso do céu (Medo!)

O título da postagem de hoje poderia ser substituído por um breve "pensamos que íamos morrer". Foram longos minutos de muita tensão. Mas eu só vou contar o que foi daqui a pouco, tá?

Conforme prometido no post anterior, vou falar sobre coisas maravilhosas que vivemos aqui em Cartagena e que não contei ontem porque já tava tarde demais.

A começar pela alegria do Pedro ao entrar num "navio pirata" que fica ancorado por aqui e que pra uma criança é quase como pisar no solo sagrado do Jack Sparrow.



Falando em alegria, "alegria" também é o nome de um doce feito aqui e que é vendido num lugar super charmoso chamado PrisPrí. Me foi recomendado por um cartagenero quando me viu aflita no balcão da doceria, diante de tantas guloseimas lindas. Depois descobrimos que as "alegrias" são, na verdade, pipoca picada, caramelada, em formato de bolinha (como um doce de festa). Nada tão deslumbrante, mas curioso.   


                                      


Alegria na caixinha! PrisPrí
E temos que falar também da alegria que é percorrer as ruas de Cartagena sobre duas rodas. Alugar uma bicicleta por aqui é quase obrigatório. Existem vários serviços alternativos de passeios (carruagem, segway, bike elétrica, e todas devem ser ótimas), mas optamos pela bicicleta porque já é uma modalidade que curtimos fazer em Fortaleza, e que aqui teria um charme especial. O aluguel custa 5 mil pesos colombianos por hora (um pouco mais de 5 reais), ou seja, é baratíssimo! Achamos tão bom que fomos ontem e repetimos a dose hoje à noite.




E vale registrar dois detalhes:

1. Ontem não tivemos o cuidado de procurar uma locadora que tivesse bicicletas pequenas. O Pedro acabou indo numa grande pro tamanho dele, e terminou o passeio reclamando que tinha feitos "vários omeletes" cada vez que se desequilibrava da bike. Hoje fomos mais cuidadosos e procuramos um modelo menor. Afinal, não quero comprometer o futuro dos meus netos...
2. É interessante que o aluguel da bicicleta é por uma hora. Você passa 30 minutos passeando, e os outros 30 tentando descobrir onde fica mesmo a loja onde vc alugou a bike. Como as ruas são muito parecidas, a gente acaba se perdendo (apesar da cidade ser pequenina). De repente você se vê passando em frente ao Subway 3 vezes, e não consegue lembrar onde foi que você virou errado pra estar ali mais uma vez. Mas até isso é bacana, e nos arrancou boas risadas hoje!

Falando em se perder, acho que isso é uma parte ótima de estar em Cartagena. Se perdendo, você descobre muitos recantos lindinhos, como pequenas praças, arte de rua, e lojas super-bacanas, como uma de artesanato que encontramos e onde aprendi um bocado sobre o trabalho de um grupo indígena que vive numa região entre a Colômbia e o Panamá e que faz um trabalho belíssimo chamado "mola" (diz-se Molha). Comprei coisinhas pra parede lá de casa.



O clima aqui é tão bacana que o Pedro andou conjecturando que "um lugar assim tão paradisíaco, não devia ter trabalho". Ah, coitado...


E já que falei em algo "paradisíaco", volto agora ao título do post. E começo falando do paraíso onde fomos passar o dia hoje. A Isla Grande, a maior do arquipélago das Ilhas Rosário, que estão próximas à costa de Cartagena. Saímos cedo do hotel, pegamos uma lancha num cais lindo e fomos empolgados para o passeio.


Tivemos a possibilidade de ver do mar a parte mais moderna da cidade, um paredão de prédios totalmente diferente na Cidade Murada onde temos passado nossos dias. Como diz a mamãe, muito parecido com Miami (como não conheço Miami, não tive essa referência, mas achei muito interessante). Até chegar à ilha, foram uma hora e pouco, numa viagem tranquila, em que nos chamou atenção como a água do mar foi saindo do tom amarronzado de Rio Amazonas, para o verde escuro estilo Praia do Futuro, até chegar aquele azul anil capa de revista de viagem. Tínhamos chegado num pedacinho do paraíso aqui na Colômbia, um pedacinho do Caribe.




A cor da água impressionou as meninas. A mim e ao Xuxu, que já estivemos na República Dominicana, nem tanto (sem querer ser chata nem esnobe). Mas o lugar é lindo. Ancoramos num hotel chamado San Pedro de Majagua,  onde teríamos algumas opções de passeios, almoço, sombra e água fresca no sentido mais literal que essa expressão pode ter.


Enquanto os mais velhos da turma ficaram lá estatelados nas espreguiçadeiras só curtindo a vista, fomos com os meninos para um mergulho de snorkel (vou ficar devendo as fotos) a poucos quilômetros da praia, numa barreira de corais simplesmente linda. Peixes mil, encantos mil, fotos mil. Aquela mistura de "Procurando Nemo" com "A Pequena Sereia", sabe? O Pedro foi um bravo no mar, mas por questão de segurança, acabou sendo rebocado durante todo o mergulho por uma bóia puxada pelo nosso guia, o que o deixou meio frustrado e, por causa disso, emburrado parte do dia.

       
Dionísio
Ascânio
Ainda bem que depois passou, e como a vibe era de filme, disse a ele que estava me sentindo no cenário de Lost, e pedi que ele me acompanhasse em uma aventura pela ilha. Acho que ele me achou meio idiota, mas aceitou o convite, e saímos "explorando" o terreno, até descobrimos um imenso manguezal em determinado ponto da caminhada.



Cada um mais preocupado com a vida que o outro. Mal sabiam o que os esperava....

Às 3 da tarde o sino tocou 3 vezes nos chamando de volta à lancha. Mal sabíamos que era ali que começaria nossa agonia. A lancha faz o percurso de volta contra o vento, contra a corrente, contra sei mais o quê e mais parece que estamos um tobogã do terror. Foi a parte em que nos sentimos nas cenas de "Perigo em Alto Mar", "O Destino do Poseidon", "Titanic", ou coisa pior. TENSÃO TOTAL. A pobre da minha mãe começou a chorar, gritar (quem a conhece pode imaginar). A gente não gritava mas sofria calado. Seria nosso fim?? E aquela sensação horrível de querer dizer "moço, pare aí que eu quero descer" e não poder. De olhar pra todos os lados ao seu redor e só ver água, água e mais água, e o barco simplesmente voando e caindo de uma vez no mar, como grandes pancadas. Putz, meu povo, foi de lascar. E digo uma coisa: pra quem não fica muito à vontade no mar (e aqui eu me incluo muito), não façam o passeio. Porque o medo na volta é tão grande que não compensa as horas deliciosas que você ficou na ilha no bem bom.

Felizmente, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. E ao chegar em terra firme, tentamos tirar onda da situação porque aqui não vale tristeza. Dona Marília voltou a sorrir, e esse episódio fica nas nossas memórias, se Deus quiser, como superado.

Assim, depois de descansar um pouquinho no hotel, voltamos ao velho e bom e seguro Centro Histórico pra nossa última noite nessa cidade massa.

Ah, já ia me esquecendo! Rolou só mais um stressezinho, que me fez envelhecer mais 10 anos (juntando com aqueles 10 do aeroporto e os quase 20 da volta no barco, já devo estar octogenária!). Foi assim: decidimos que queríamos repetir a dose de bike (como eu disse no começo desse post), mas a Maria Clara não tava a fim. Eu a encorajei a sair sozinha, olhando as lojas, batendo fotos, ensaiando como é ser gente grande (afinal, nossas viagens também tem esse propósito, de desarnar esses meninos para o mundo, para a vida). Marcamos um horário e um ponto de encontro, e então nos separamos. Eu, Xuxu, Pedro e Gabi saímos de bicicleta e Maria à pé. Poucos minutos depois a encontro por acaso andando numa rua, e achei tão lindo vê-la daquele jeito. Nos separamos de novo.

Até que chego pontualmente na hora marcada, no local marcado e cadê Maria Clara? Cadê Maria Clara, minha gente? Em 20 segundos passou um roteiro de filme na minha cabeça (só porque o dia hoje foi cinematográfico). Imaginei que a menina tinha sido sequestrada por colombianos do mal que estavam seguindo nossos passos e perceberam que ela estava só. Ela seria estuprada, torturada, e sem passaporte (estava comigo), sem telefone, sem nada, passaria pelos piores horrores. Nossa viagem à Colômbia seria marcada pela desgraça do sumiço da minha filha, ninguém me ajudaria...

Saí andando sem rumo com o coração a mil, até que ouvi o assobio do Xuxu me sinalizando que estava tudo bem. Ela havia chegado. Foram menos de 5 minutos de atraso, mas uma eternidade de sofrimento. Assim como nós, ela também tinha se perdido nas ruelas de Cartagena, mas no final das contas, o atraso tinha sido mínimo.

Viram que o dia foi puxado, né?
Agora acho que mereço um sono de princesa, pra ver se os filmes de amanhã ficam mais pra comédia romântica que pra drama/terror. E serão, se Deus quiser. Embarcamos às 07:40 de volta a Bogotá, onde ficaremos até sábado.

Buenas noches, muchachos. Hasta mañana!