sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Histórias e pessoas incríveis que encontramos pelo caminho...


Entre os lugares lindos que o nosso Descobrimento nos levou na região Sul, alguns se tornaram especiais graças às pessoas com quem cruzamos. Não podia deixar de registrar isso aqui. Pessoas com histórias inspiradoras que deram mais sentido à nossa viagem. A deixaram ainda mais rica, mais bonita. Gente que nem imagina como nos tocou...

O primeiro encontro aconteceu em Canela, na serra gaúcha. Impossibilitados (financeiramente) de conhecer a Snowland, atração "top" de Gramado pra quem quer brincar na neve em pleno Brasil (e que custava 180 reais por pessoa _ multiplique aí por 6!), fomos fazer um programa meio bobinho, "infanto-juvenil", como definiu a Gabriela, mas "fofinho", como esperava a Maria Clara: o parque temático Terra Mágica Florybal, da maior fábrica de chocolates de lá.

No clima da Terra Mágica !
No meio daquele cenário que se propunha idílico, eu e o Xuxu avistamos a Casa do Mago. Entramos e demos de cara com o tal mago, de voz engraçada e totalmente amigável. Jeitoso, foi logo nos arrumando com capas e chapéus e nos entregando as "poções mágicas" que deveriam ser misturadas no caldeirão esfumaçante. Com medo do mico, nossos meninos se mantiveram distantes, olhando ressabiados, enquanto o mago não perdia o rebolado com a gente. Ele foi tão bacana que, aos poucos foi conquistando os outros (menos a Maria, aquela que achava o passeio "fofinho", lembram?). Vi a atenção dele se estendendo aos outros turistas, com a mesma alegria, um após o outro, sem perder a gentileza. Era bonito ver aquela dedicação.

Entrando no clima da magia

Antes de ir embora, resolvi parabeniza-lo. O trabalho dele era diferente. Ele agradeceu e eu soltei um despretensioso: "Vou levar você nas minhas lembranças quando voltar pra Fortaleza", e imediatamente vi um enorme sorriso se abrir por trás daquela barba branca: "Vocês são cearenses, não acredito! Eu sou de Guaraciaba do Norte". Em instantes o mago já se chamava Felipe e me revelava que sob aquele personagem carregava um desejo maior de trabalhar como ator, sonho que foi buscar lá nas bandas do sul. Me emocionei com a história dele e certamente irei vibrar quando souber do seu sucesso. A magia do carisma ele já tem. Agora já somos amigos de Facebook e pretendo acompanhar os novos capítulos da história dele.

A emoção de descobrir que éramos conterrâneos.
Desejo que ele ainda brilhe muito por aí!


O segundo encontro aconteceu em Cambará do Sul (RS), numa estrada de terra a caminho do Parque Nacional de Aparados da Serra, onde fica o Canion Itaimbezinho. Fomos seduzidos por uma plaquinha que dizia "Sabores da Querência - Geleias Orgânicas". Já tínhamos passado por ela duas vezes, achado bonitinho, e na terceira, exaustos depois de uma trilha de 3 horas para conhecer o canion (esse passeio vai ganhar um post em separado), o Xuxu disse: "ah, vocês vão me desculpar mas eu adoro doces e vou conhecer esse lugar".  A subida íngreme logo na entrada escondia um recanto acolhedor, de arquitetura cheia de detalhes originais.


Fomos recebidos pela Cláudia, uma mulher alta, de sorriso largo e voz forte (me lembrou a da Ilze Scamparini sem aquele tom fúnebre papal) a se desculpar pela "bagunça" deixada por um grupo que tinha saído minutos antes de a gente chegar. Explicamos que havíamos sido levados ali pela curiosidade e ela já foi tratando de apresentar as geleias, fabricadas artesanalmente a partir de frutas plantadas e colhidas ali mesmo por ela e o marido. Amoras, framboesas, mirtilos e physalis, além de antepastos. Um a um, a Cláudia foi nos apresentando os "sabores da querência" e nos conquistando pela barriga. 

As geleias do Sabores da Querência. Todas produzidas com matéria prima cultivada pela Cláudia e pelo Vico

A Cláudia nos contou que a produção de geleias representava uma escolha por uma vida com outros valores, opção dela e do marido, o Vico. 

Esse é o Vico (Foto copiada do site deles! saboresdaquerencia.com.br )
A história era assim: a Cláudia era executiva do mercado de finanças. Tinha uma vida agitadíssima. O Vico, gerente de uma grande indústria de calçados. Em um determinado momento os dois resolveram que não precisavam mais daquilo. Que podiam viver com menos e viver melhor. Procuraram o lugar onde gostariam de morar, planejaram o modo como queriam levar a vida e fizeram da Querência Macanuda um lugar onde a gente sente paz e deseja por ela.


Achei interessante o relato dela porque tenho conversado bastante com o Xuxu sobre a vida que temos e a vida que queremos. Parecia que eu tava recebendo um recado. A vida pode ser muito mais simples do que a gente pensa...

O papo foi tão bom que no dia seguinte voltamos. O netinho deles tinha chegado do Rio pra passar férias lá. Corria naqueles campos verdes acompanhado pelos cachorros e uma ovelha felpuda que batizada como Floquinho de Neve. E novamente nos sentimos inspirados.

Um negócio chamado liberdade

Foi em Urubici (SC) que descobri, por acaso, outra pessoa muito bacana. Enquanto o Xuxu foi com os meninos ao posto do ICMBio buscar uma autorização pra gente visitar o Morro da Igreja (essa autorização é obrigatória), resolvi ficar na igreja (mesmo) da cidade. Aqui um parêntese: sempre gosto de visitar igrejas nos lugares onde passamos. Em cada uma delas peço bençãos a Deus, do meu jeito, para as pessoas que amo, e agradeço, sempre agradeço, pelas coisas boas que acontecem na minha vida. Saí da igreja e enquanto eles não chegavam entrei numa casa lindinha na mesma rua. Era uma loja de decoração. Comecei a puxar conversar com a dona, a Lucília. E sabe qual história ouvi? A de uma arquiteta de grandes projetos estruturais que largou pra trás o escritório e veio morar no interior em busca de uma vida mais humana, mais sintonizada com o meio ambiente, num significado literal de paz de espírito. Lá tava eu de novo pensando: isso é um sinal! Ah, e que fique claro: não estou falando de ripongas maluquetes, não! Hahahahah 

O Xuxu chegou,ela viu a meninada, trocamos ideias sobre criação de filhos, desejos, futuro, e quando vi ela tava me dando o telefone dela pra gente ligar se precisasse de alguma coisa ali durante o passeio. O papo foi tão bom que me esqueci de tirar uma foto dela. Mas olha a vibe da loja!

Recanto lindo da loja da Lucília. "Pra quem gosta de casa" é o nome 

Na praia do Rosa (SC), foi a vez de conhecer a Dora e o Ismael, mãe e filho, gaúchos de São Leopoldo, que ficaram hospedados na mesma pousada que nós. Puxei conversa sobre o consumo de chimarrão deles (ela tava sempre com a cuia de erva na mão) e daquele papo muitas outras conversas surgiram. A Dora me contou que está perto dos 60 e nunca esteve tão disposta a correr atrás de sonhos. Pensa em se mudar de São Leopoldo para o Rosa pra começar uma vida bem diferente. A firmeza e a determinação dela são incríveis! Nos despedimos com a promessa de que ainda vou visita-la em sua nova morada.

Longas conversas com a Dora e o Ismael sobre realização de sonhos

Por fim, preciso falar novamente da Rose e do Valdo, nossos anfitriões da Pousada Prazeres do Rosa. Uma parte do que eles fizeram por nós já foi contada em outro post. Mas a acolhida desse casal com nossa família foi realmente marcante. Pra vocês terem ideia, até descobri que o sobrenome da Rose também é Medeiros, já pensou? Ouvi por acaso, quando ela conversava com outra hóspede. Fiquei impressionada com a coincidência. Aí teve a afeição deles com o Pedro, mesmo nome do netinho de 5 anos de quem eles sentem tanta saudade. E o conhecimento deles de Fortaleza, por conta de trabalhos que já fizeram na nossa terra, as afinidades de pensamento, o gosto por viagens... Lá pras tantas tava o Valdo cozinhando ovo pro Pedro comer à noite e fazendo suco de abacaxi "exclusivo" pra gente no café da manhã. Um carinho de pais pra filhos, de irmãos, sei lá! Minha gratidão por eles é enorme. Teve choro na despedida. E um desejo enorme de um reencontro. 



Suquinho especial feito pelo Valdo. Carinho sem tamanho
Senti uma necessidade enorme de escrever sobre essas pessoas. Tenho me convencido cada vez mais que o que levamos dessa vida são as experiências que vivemos e os afetos que trocamos. Esse post eu dedico a todo mundo que também acredita nesses encontros.





   

A viagem acabou mas ainda existem muitas histórias que precisam ser contadas!


Já estamos em Fortaleza. Mais uma "aventura" concluída com muita alegria. Ao contrário das outras viagens, quando eu conseguia atualizar o blog praticamente todo dia, desta vez tive muitas dificuldades de conexão e muita coisa bacana deixou de ser registrada "em tempo real". Não considero, no entanto, que elas não mereçam mais ser contadas. Até porque aqui elas ficam guardadas pra uma leitura futura. Pra mim esse blog é, principalmente, um lugar de registrar emoções e lembranças. Assim, aos poucos, irei escrevendo os posts e, quem sabe, redescobrindo histórias e versões do nosso próprio Descobrimento do Brasil.

Trilha do Canion Itaimbezinho, em Cambará do Sul/RS. Teste de resistência física.

Foram 14 dias fora de casa. Duas semanas em que percorremos mais de 2.500 km nas estradas da região Sul do Brasil. Conhecemos praia, montanha e até um pedacinho da Alemanha encravado em Santa Catarina. Sentimos calor, passamos frio. Descobrimos que "lá embaixo" o sol queima sem a gente sentir e o mar nos congela o sangue, nos paralisa e, mesmo assim, nos atrai pra mergulhos viciantes. Aprendemos novas expressões de linguagem, fizemos amigos, ouvimos muitas histórias (que serão contadas aqui em breve). Conhecemos recantos que não estão nos guias de turismo e outros bem famosos e nem por isso mais charmosos. Mais do que isso tudo, aprendemos sobre nós mesmos. Sobre nossas reações, nossos humores, nossa capacidade de ressignificar sentimentos. Afinal, éramos seis. Seis pessoas de idades e gostos diferentes, convivendo as 24 horas do dia em situações distintas, nem sempre agradáveis a todos. Superamos. Entre bicos, suspiros e risadas, voltamos pra casa com um gostinho de que tudo foi válido.



Não sabemos ainda quando será a próxima viagem, qual será a formação da turma (Maria e Gabi já começam a ter seus próprios rumos e podem não nos acompanhar mais) e nem qual será o destino. Nossa única certeza é a de que, ao contrário do que muita gente pensa, viajar de carro pelo Brasil é MA-RA-VI-LHO-SO e a gente ainda quer correr muito chão pra conhecer as coisas lindas que existem aqui. Quem sabe na próxima não seguimos para o Norte???

Nos dias em que estivemos fora ficamos totalmente alheios aos noticiários. E, acreditem: sem ouvir tantas histórias sobre corrupção, sobre pessoas que querem levar vantagem em tudo, dava até pra acreditar que vivíamos em um lugar invejável, de gente solidária, cordial e simpática e cheio de paisagens cinematográficas.

Alguns desses lugares vou descrever nossos próximos posts. Valeu, pessoal!